Três poemas de Iosif Landau

Mãos de Iosif Landau - foto de Cristina Carriconde
Mãos de Iosif Landau - foto de Cristina Carriconde

Hoje faria aniversário o escritor e poeta Iosif Landau (Bucareste/Romênia, 30/04/1924 – Rio de Janeiro/RJ, 14/08/2009). Ele veio para o Brasil em 1940. Formou-se em engenharia, casou-se com Lia, em 1950, e teve quatro filhos — Luiz, Sérgio, Roberto e Elena. Aposentou-se e começou a escrever aos 70 anos de idade. As três poesias abaixo foram publicadas no site das Escritoras Suicidas sob o pseudônimo de Dominique Lotte. Para saber mais sobre a biografia e obra de Iosif Landau, recomendo ler esta incrível entrevista de 2007 no site Germina Revista de Literatura e Arte para ninguém menos do que Rodrigo de Souza Leão ou o site das Escritoras Suicidas com uma ótima biografia e alguns poemas (que utilizei aqui), mais uma relação dos seus livros publicados em vida.

pai
(Iosif Landau)

meu pai iniciou a vida
como convinha
foi criança, foi miúdo
bem cuidado e com saúde
viu o sol raiar, o sol se pôr
e com certeza ficou encantado
e sem se dar conta
viu-se de repente crescido
suas roupas encolhidas
a infância ida.

percebeu que a vida
não era brinquedo,
em vão tentou reencontrar a Magia,
a surpresa da inexistência o fez esquecer
de vez aquilo que ele chamava de Magia

no seu coração agora só a lembrança
dos bondes, da praia virgem,
da cidade limpa como conheceu,
das salas de cinema amplas,
do sorvete de chocolate.

meu pai não teve horizonte amplo
não soube o verdadeiro significado
da felicidade, eu garanto,
esperanças sumidas como se lagoas
fossem secadas pelo inclemente sol,
escravizado de manhã ao entardecer
o dia não tinha muito pra lhe oferecer

o pai do meu pai viveu num mundo
de flores e campos verdejantes
mundo ainda primitivo, nevoado
que meu pai nunca conheceu como devia
um mundo ao qual ele deu adeus
junto com o adeus ao pai dele
assim como eu dei adeus a ele
e meu filho me dará seu adeus
do mesmo jeito

pais surgem de um ponto
e somem num outro
é tudo que sempre todos teremos,
o pai é pai enquanto precisam dele
e sempre, sempre daremos o nosso adeus
a ele
antes do tempo


o banheiro
(Iosif Landau)


fica mais, só um pouco, querida
apenas esquentei os motores
no seu corpo que é um rio,
quero explorar a margem esquerda,
nadar pelo meio
e tocar a margem direita,
assim como fizemos o outro dia,
por que não sai logo do banheiro?
sempre leva tanto tempo,
me impacienta,
tem que ser sempre
depois de um amor quente?
essa rotina da mulher pular da cama
logo depois do último gemido
mata toda a poesia,
querida, venha logo,
gosto de ver suas longas pernas
e suas pulseiras nos tornozelos,
todos os meus poemas dessa semana
serão sobre você querida,
enquadrada na porta do banheiro
entrando apressada com a toalha entre as pernas
e saindo preguiçosa com a toalha enrolada na cabeça


um gim em ipanema
(Iosif Landau)


beirais na praia aninham andorinhas
o vôo das quentes estações
não lhes permite erigir museus
deixam escrito o verão
em fios de luz

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