Philip Roth - Patrimônio

Literatura norte-americana
Philip Roth - Patrimônio - 192 páginas - Editora Companhia das Letras - Tradução de Jorio Dauster - lançamento 2012 (ler aqui um trecho em pdf disponibilizado pela editora).

Philip Roth (1933-2018) não tem mesmo pena de seus protagonistas, assim como nos romances mais recentes: Fantasma Sai de Cena e O Animal Agonizante, o tom também é autobiográfico neste Patrimônio, lançado originalmente em 1991, ao ponto de merecer o subtítulo: uma história real. Roth mergulha na sua tragédia particular ao narrar os últimos dias de relacionamento com o pai de 86 anos, vítima de um tumor cerebral. Apesar de tudo a escrita é precisa como sempre, mesmo ao tratar de um tema tão doloroso e pessoal, o autor consegue transformar em literatura a difícil luta de pai e filho contra a decadência gradual que vai tomando conta do corpo de Herman Roth. O olhar pragmático de Philip Roth não deixa espaço para qualquer esperança, seja de caráter científico ou religioso. Nesta sombria passagem do romance percebemos a dolorosa carga de realidade contida no texto e que Roth quase chega a transformar em ficção:
"Estar sozinho também me possibilitava expressar toda a emoção que eu sentia sem necessidade de assumir uma postura máscula, madura e filosófica. A sós, eu chorava quando me dava vontade de chorar, e nunca essa vontade foi tão grande como quando tirei do envelope a série de imagens do cérebro dele não porque eu fosse capaz de identificar com facilidade o tumor que lhe invadia o cérebro, mas simplesmente porque se tratava do cérebro dele, do cérebro do meu pai, daquilo que o fazia pensar da forma curta e grossa com que pensava, falar da forma enfática com que falava, raciocinar da forma emotiva com que raciocinava, decidir da forma impulsiva com que decidia. Aquele era o tecido que produzira seu conjunto de infindáveis preocupações e por mais de oito décadas sustentara sua teimosa autodisciplina, a fonte de tudo que me havia frustrado tanto como filho adolescente, a coisa que comandara nossos destinos nos tempos em que ele era todo-poderoso e ditava os propósitos da família — tudo isso agora estava sendo comprimido, deslocado e destruído por uma 'grande massa localizada predominantemente na região dos angulos cerebelopontinos e das cisternas prepontinas.'"
Para aqueles que já passaram por experiência semelhante ao acompanhar os momentos finais de um pai ou mãe, é impossível não se identificar com o sentimento de medo e angústia que passa a fazer parte do nosso cotidiano, a triste sensação de querer que tudo acabe logo, mesmo sabendo que não há outro final possível que não aquele que mais tememos. Enfim, somente Roth conseguiria sintetizar, em tão poucas e simples palavras, o abandono e a solidão de quem fica:
"O que os cemitérios provam, ao menos para gente como eu, não é que os mortos estão presentes, mas que se foram de vez. Eles se foram, enquanto nós, por enquanto, não fomos. Isso é fundamental e, embora inaceitável, bem fácil de compreender."

Onde encontrar o livro: Clique aqui para comprar Patrimônio de Philip Roth 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

As 20 obras mais importantes da literatura japonesa

As 20 obras mais importantes da literatura francesa

As 20 obras mais importantes da literatura italiana

As 20 obras mais importantes da literatura dos Estados Unidos

20 grandes escritoras brasileiras

As 20 obras mais importantes da literatura portuguesa